A insustentável dubiedade da psicanálise
A psicanálise não pode ser levada a sério. Se não você fica maluco.
Uma vez fui num aí considerado o melhor do Brasil.
Ele ficou um pouco tenso, e disse: Onde estão suas dúvidas?
Isso parece ser a essência do pensamento. Eles nunca afirmam nada. Só se incomodam se você se mostra seguro. A segurança para eles é imaturidade.
E aí que está um dos problemas. Os antigos céticos também não tinham dogmas, mas eram firmes em sua posição.
Os modernos psicanalistas não gostam do cético, porque o cético tem a convicção de que vive bem do jeito dele.
Na verdade, é chique em NY dizer-se duvidoso sobre sua sexualidade. Tudo do ser humano que soa não competitivo soa maduro. Aí, fugir da competição de conhecimento, e dizer-se em dúvida quanto às suas preferências soa maduro.
No fundo, o medo é parecer criança. Se dizer-se bissexual alivia a acusação de criancice, o paciente diz.
E vai-se assim.
Todos que nos atacam são crianças que não sabem lidar com os próprios sentimentos ( tem certezas demais) e portanto quando narramos ao psicanalista qualquer atrito, somos aliviados porque nossa fragilidade conota superioridade sobre o atacante.
No entanto, se ao oposto, somos nós os atacantes, expressamos nossos sentimentos e assim fomos nós os maduros de novo.
E vai-se assim.
Onde estão suas dúvidas?
Caso isso se referisse a um professor de matemática, era fácil.
Mas aqui....
É uma poesia que ele recitou? Para eu responder o que senti?
Ou se refere ao fato de eu ser comunista?
Essa dubiedade vai o tempo todo.
No hospício, estão os que não duvidam.
Parece racional. Mas é loucura interpretar isso dessa maneira, porque todo psicótico é assolado por dúvidas.
Então é poético. Mas qual a conotação, o que o artista espera com isso?
Leia-se esse bonito poema:
" Pênis"
" E daí"
" Vejo que vc ficou vermelho"
" Pode ser"
" Vergonha? Ou vergonha da vergonha?"
" Ah, me pegou."
" Pegar?"
" Dessa vez não fiquei vermelho!"
" E daí"
" Dinheiro"
" Quer ver se eu fico vermelho?"
" Já ficou"
" Você tem medo de entrar no banco?"
" Pode ser"
" Você pode parecer gay?"
" Como assim?"
" Não sei. Vc interpreta"
" Dinheiro"
" Gay"
" Vermelho"
" E a sua mãe? "
" O que tem?"
" Teria vergonha de te ver no banco?"
" Não sei"
"Vergonha da vergonha?"
" E a sua?"
" A minha o que? "
" Acredita em Deus? "
" Vc está vermelho"
" Dinheiro?"
O processo é maluco.
E quando se trata do paciente de fato ter problemas, a coisa piora muito. Porque está em busca da salvação, e esta não aparece nunca. E aí se o paciente reclama, vem a tradicional frase : é você que tem que salvar-se, não eu.
" Li ontem um poema tão lindo! "
"Qual? "
" Aquele que começa com as nuvens"
"Ah, eu gosto também"
" Só que não sei se entendi direito"
" Mas tem certo e errado? "
" Pois é"" Importa o que eu entendi né?"
" Não, o que vc sentiu. "
" Não sei o que senti"
" Também não importa "
A pergunta que não quer calar, e que solucionaria todo o problema da psicanálise: o que quis dizer o sr Carol, com sua pergunta: Onde estão suas dúvidas?
A resposta srs, é que simplesmente a pessoa que se diz em dúvida é menos passiva de ser chamada de criança.
Por isso há um certo culto à dúvida.
A salvação vem dos poetas. Gente de sensibilidade superior, cujas obras vão nos inspirar.
Ou mesmo pensadores, mas na conotação emotiva do que falam.
E, como a interpretação é livre, podemos dizer que a psicanálise não fala absolutamente nada.