A pergunta que não quer calar, por que Renato Gaúcho não foi internado?
Após minha tentativa de suicídio veio um psicanalista na minha casa. Ele entra no meu quarto e vê na mesa um livro, o Timeu de Platão em inglês. Com um sorriso malicioso pergunta: esse livro é meio difícil não? Eu respondo que não li. Mais tarde ele pergunta de novo e, por educação, digo, sim é difícil. Para completar o diagnóstico ele, também da mesma forma maliciosa, diz que "percorreu uma longa distância para vir me ver", tentando ver se eu me achava importante. O que, não me lembro qual reação causou, mas certamente confirmou tudo que ele tinha em mente.
Percebo que o leitor se pergunta o que tem a ver uma coisa com outra. E também é o que eu me pergunto. Mas a pessoa que mente sobre seu inglês e seu conhecimento filosófico é considerada sintomática. Você tem uma imagem de si mesmo exageradamente falsa. Isso se corrige com psicanálise.
Por que diabos não me perguntou diretamente o que tinha acontecido? Não seria melhor que ele não tivesse estudo algum e simplesmente como amigo tivesse uma conversa franca, aberta, racional?
Mas vejam que espetáculo. Esse tipo de questionamento também se corrige com psicanálise. Porque é um questionamento excessivamente racional, e também excessivamente defensivo.
Eu clamava ter entendido o artigo da Britânica sobre história grega. O cara não me faz uma pergunta para ver se de fato eu mentia. Mas, com uma autoridade que não se sabe de onde vem, clama ele que tudo ali converge para que se faça uma psicanálise.
O fato de isso ser caro não surge na discussão.
O fato de que ele não sabia história grega ou qualquer outra leitura minha também não aparece, ele se diz ali o terapeuta ideal.
Repito. O fato de ser um processo caro não surge.
A acusação era de uma imagem falsa de mim mesmo. A imagem que ele vendeu foi de que aquelas mentiras se relacionavam com meu pai racional e repressor. Era para agradá-lo que eu seguia aqueles caminhos.
Bom, a minha imagem de mim mesmo que era falsa? Tem certeza?
Porque vejamos a imagem dele de si mesmo. Não leu um livro que eu tivesse lido. Conversou comigo no máximo vinte minutos. E nesse tempo decide meu futuro. Decreta remédios. Vem com teorias. Clama saber. Emite um diagnóstico que vai me perseguir a vida inteira.
Se soubesse algo da Grécia veria que ele se achava um semi deus, uma pessoa com a famosa hybris.
Ou não. Era apenas aquele detalhe do preço.
Que diabos é isso de uma imagem falsa de si mesmo?
Outro dia vi o Renato Gaúcho dizendo que, tivesse ele os mesmos parceiros que o Cristiano Ronaldo, teria jogado mais que ele. Por que não foi internado? O cara se julga o melhor do mundo...
O leitor sabe quantos anos eu tinha? Dezenove.
Bom. Nada a ver com o preço.
Já dizia Mussum, quando o pão cai, cai com a manteiga para baixo.
Outro dia escrevi criticando a clozapina. Isso aí de fato teria me deixado diabético se eu mesmo não tomasse a iniciativa de desobedecer meu médico. Ele mesmo é diabético, e talvez tivesse raiva de eu não ser. Os exames de sangue existem. E além disso a clozapina tem de fato vários outros efeitos desagradáveis. O que aconteceu? Um pai de um amigo meu leu, e disse que iria "tirar cópias e mandar para psiquiatras". Eu reclamo. O cara se torna agressivo. Pergunta se sou bioquímico, como podem tantos psiquiatras estar errados e por aí adiante. Na verdade só o exame de sangue mostrando a glicemia alta era suficiente. Mas veio uma enxurrada de argumentos. Eu espero que a intenção dele era só me humilhar. Espero mesmo.
Mas a manteiga está mesmo para baixo.
Virão aí.
Um processo da associação brasileira de psicanálise por difamação.
Um processo daquele psicanalista por danos morais. ( parece impossível, já que não citei o nome, mas isso é porque o leitor não cobra mais de mil reais a consulta. De novo, o preço não tem nada a ver com nada)
Um processo duplo. Daquele pai por danos morais, e do Novartis (fabricante da clozapina). Onde o Novartis vai fazer um depósito na conta daquele pai.
E por último um processo do Renato Gaúcho.