Espíritos?
O fato é que as pessoas aprendem às vezes inconscientemente.
Tem personagens em nossas vidas que nos marcam sem que percebamos.
Adquirimos sem perceber características desses personagens.
Na minha vida, a solidariedade era muito forte, por causa, entre outras coisas, de meus dois irmãos menores. Creio que aprendi a ser solidário muito com eles.
Mas me deparei na adolescência com um bandido. Cujo único objetivo era o sexo.
Essas coisas ficam em nosso inconsciente e saem pra fora às vezes.
Talvez quem tem comportamentos estranhos, é porque aprendeu. Talvez nem se deu conta, mas aprendeu.
A psicanálise poderia trabalhar as influências que queremos esquecer, e as que queremos promover.
Mas talvez precisemos ir além.
Existem altruístas e egoístas. Bons e maus. Com todos no meio.
A questão é: Só estamos nós aqui?
Porque podemos dar uma opinião positivista na minha vida, foi a influência de uma má pessoa que me levou a comportamentos inadequados, ou aquela pessoa passou pra mim um mau espírito, o espírito da pornografia, do abuso.
Ao mesmo tempo que ler Platão me passou o oposto, o espírito da lógica, da concórdia, que graças a deus provou ser mais forte do que o do abuso.
Quando Freud diz que agimos sem nos dar conta das razões, óbvio que ele está certo. Mas qualquer um sabe disso.
Agora pode ser muito bem que haja espíritos, entidades que nos ajudam e nos atrapalham.
Nada a ver com o complexo de Édipo.
Alguns não são maus, apenas deduziram demais, tiveram excesso de investigação na mente. Pode ser causada por um espírito que busca coincidências, ou buscar coincidências pode ser uma característica humana, que às vezes cresce em importância.
Muito comum é a competição em excesso.
Muito comum é o pavor de ser visto como criança.
São espíritos? Ou só fenômenos da nossa mente?
Pode ser o que for, acho que Deus salva.
Você pode vê-lo como uma fonte de tranquilidade que expulsa a agitação da maldade.
Existe uma certa correlação entre tranquilidade e bondade.
E sobretudo se você tem Deus você não precisa competir e assim parece adulto.
O medo de parecer criança está aí todo o tempo.
Pode ser um espírito.
Ou pode ser só ausência de um ritual de iniciação.
Há uma necessidade de anciãos sábios. Que conheçam a tradição, e digam às pessoas que estão em dificuldades como sair delas.
A psicanálise poderia tentar fazer isso. Esclarecendo que estamos aqui para colaborar, e não para estar por dentro, antenado, o caralho a quatro.
Porque os estoicos, quando diziam que quando você percebe a vacuidade dos valores mundanos você melhora, na minha opinião estavam certos.
O culto à malandragem pra mim é um dos pontos mais baixos de nosso tempo.
Falar gíria e espalhar vídeos eróticos de si mesmo é total miséria.
É um problema espiritual ou ideológico?
O interessante é que acho que ambas as atitudes são boas.
Rituais onde se faz um exorcismo creio que funcionam.
Mas também funciona o caminho intelectual. De perceber por exemplo que sou adulto e ninguém tem que abalar isso.
Sócrates pode ter percebido que a maldade está relacionada com a recusa em pensar em conjunto. Talvez um feiticeiro africano dissesse, verdade, mas é porque essas pessoas tem o espírito da discórdia dentro delas.
Agora o trabalho não creio que seja a busca de um evento que nos traumatizou. Essas coisas aconteceram e é bom dividir, mas seja pelo caminho intelectual ou pelo espiritual ao alcançarmos deus é que chegamos mesmo à uma vida melhor.
À essa altura da vida, acredito que há experiências com entidades imperceptíveis.
Mas também acredito que uma atitude cética, não há como ter certeza, pode dar certo, se enfatizar a bondade e a lógica.
Agora, achar que o ser humano é feliz em função de relações sexuais felizes é muito ingênuo. Isso não vai te tornar mais altruísta. Ou mais próximo de deus.
Isso é um campo fértil para os maus espíritos.
A atitude de alguns africanos também é interessante. A ênfase no respeito. Também está correto. Tanto no campo apenas humano, como no dos espíritos.
Sofri muito na minha vida por não ter respeitado minha mãe, e não ter sido ensinado por ela que deveria respeitar as pessoas.
De fato, se todos nos respeitamos, o mundo está salvo.
Agora, Sócrates ia dizer que a lógica dele fazia isso aí. Que se não fosse por alguns atenienses malignos, ele teria salvado o mundo antes do Cristo.
Talvez o caminho africano do respeito esteja mais próximo da psicanálise.
O problema maior dessa prática eu creio, é a valorização dos desejos, da ação, em detrimento da paz, da lógica, da concórdia, de Deus.
A felicidade não está na ação. Está no repouso. Nas amizades. Em poder ajudar.
É importante o psicanalista não incentivar o caminho do hedonismo.
Qualquer religião vai concordar.
E aí um dos problemas centrais: o desejo da pessoa vai estar às vezes relacionado ao mau espírito dentro. É perigoso esse tipo de trabalho.
Se o psicanalista vê que o prazer vai desrespeitar alguém deveria avisar.
Ser apenas um espelho, onde a pessoa vai ver o que é, é um passo bonito e interessante, mas o problema é que a pessoa sozinha não vai saber como melhorar.
Não acredito numa pessoa feliz sem ideologia por trás. Mesmo que sejam poucos pensamentos, eles são necessários.
Ler a tradição é fundamental.
O psicanalista talvez devesse ser uma pessoa culta, capaz de explicar diferentes tradições, para que o paciente escolha o que prefere.
Um espelho, alguém que dá um retorno, é bom. Mas é o primeiro passo só.
Hedonismo não espanta mau espírito. Só promove.
Vamos ver quem te prejudicou, quem tem ajudou, vamos ser solidários e vamos ficar satisfeitos com pouco. Respeitando sempre.
Um bom resumo do que seria uma boa psicanálise?