Maleabilidade

O brasileiro é maleável? Aí reside sua superioridade?

(o leitor viu que falei "sua" e não "nossa". É porque acho engraçado brasileiro falando " We in Brazil" quando dá entrevista para estrangeiro. Parece que o cara é porta voz do Brasil, né? Existe de fato brasileiro? Não é uma criação de geógrafos? Gaúcho não é uma cultura e amazonense outra? Existe um universal de brasileiro? Fora a rede globo? )

Já dizia o grande Stanislaw Ponte Preta:Tinha um bar no porto lá no Rio de Janeiro. Frequentado por marinheiros. E um alemão disse que lá não tinha macho. Levantou um italiano, foi encarar, o alemão pau, deu-lhe um cruzado direita o cara cai no chão sem sentidos. Depois veio um americano. Olhou fixo, como cowboy. Um gancho de esquerda botou o cara a nocaute. Um argentino achou que acabava com aquilo. Tomou uma cabeçada e por pouco não foi a óbito. Aí levantou um brasileiro. Todo malandro. Todo gingado. Chegou com um certo sorriso, na malícia. O alemão deu-lhe uma traulitada e ele caiu esbagaçado.

Aí reside a maior questão existencial do Brasil. O time de futebol é bom. Mas isso advém da malandragem brasileira?

Quando eu era adolescente acreditava nessas coisas. Tanto que queria estudar na Itália, onde possivelmente teria menos malandragem.

Hoje tenho dúvidas.

Mas sim. Na época eu queria ser mais maleável. E sim, não me sentia brasileiro.

Porém creio que houve uma interpretação desastrosa disso tudo. Há outra etnia sem dúvida mais esperta, e de acordo com o manual deles as dificuldades todas vem de nosso pai repressor. ( o fato do manual estar errado e mesmo assim ser lido é a prova da maleabilidade maior deles).

Só que fui a vítima.

A minha falta de maleabilidade vinha do meu pai repressor, e não dos bares não frequentados. Surgiu uma teoria de que se eu assumisse meu lado feminino eu ficaria mais maleável. Era preciso eu me livrar da influência paterna.

Tudo absurdo!

Primeiro: quem disse que mulher é mais maleável? No meu lar não, jamais! Não tem pessoa mais intransigente, explosiva, péssima negociante que minha mãe!

Segundo: Tem mesmo uma mulher interna? De que merda estão falando?

O fato é que estava errado. Eu na época já tinha razão. Precisava de experiência de vida, saber como falar com todo mundo. Como já pregava Confúcio.

A minha teoria era que eu adquiriria maleabilidade com conhecimento. Sabendo como a sociedade funcionava. Como se bebe cerveja no bar, quanto custa uma mulher, etc.

Mas me fecharam as portas. Tudo que eu fazia para aprender era sabotado. Eu achei que ficaria bobo para sempre, ou até desconfortavelmente tarde.

Existe algo que ajuda. A lógica, o desapego, Deus.

Descobri isso. E me salvei um pouco.

Para essas pessoas, estudar lógica é perda de tempo. Essas pessoas estão erradas. Vem segurança com a lógica. Vem maleabilidade com a lógica.

Essa gente vê sexualidade em tudo. Talvez daí achem que tem um lado feminino reprimido, sabe-se lá o que.

A teoria era que assumindo-me mais feminino eu teria maior maleabilidade? Maior confiança?

Pra mim não faz nenhum sentido.

Era, e ainda é, uma questão de experiência. É ridículo isso aos cinquenta anos, mas sim, é forçoso me declarar inexperiente.

Psicotrópicos são trágicos. Você sofre e não aprende nada.

A vida se foi. Não aprendi o suficiente. Não fiquei maleável o suficiente. E agora, le temp d´aprendre a vivre il est dejá tros tard!