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O que a Gorda significou

Eu nunca soube nada sobre a Gorda. Havia a esperança de que não me desprezasse como o restante. Depois vi que desprezava igual. Por isso fui embora.

Pensava que ela estava fora do jogo de projeção de imagens. Não estava. Queria que eu fosse charmoso. Mais que amor queria charme.

Então foda-se!

Sim, eu queria declarar que tinha namorada, e isso era motivação importante.

Minha mãe não entendeu. Porque o cálculo dela é outro. O prestígio vem da imagem do cônjuge. Tudo que interessa na vida é casar-se bem, para que todos vejam com quem nos casamos. Só falar que tem alguém não é o suficiente. Assim, ela pensou que eu achava que teria status ostentando a Gorda.

(A chateação da vida dela foi que meu pai não vendia a imagem de virilidade que ela achava conveniente ter)

Aí, ela pensou: até que meu filho pensou bem, porque essa aí vai dar status.

O que complicou o cálculo foi que a imagem dela se prejudicava. Uma paixão como a minha talvez tivesse parte da origem numa mãe ausente. E o ciúme veio. Como sempre acontece com ela.

E a genitora começou a buzinar no ouvido da Gorda que a imagem dela me agradava.

Só que eu nunca tive ideia de qual era a imagem da Gorda!

Nunca ouvi um comentário sobre a Gorda.

Minha mãe sempre suspeitou desses fatos. Mas um amor desinteressado ela não compreende. E se sente inferior. Dá status um amor desinteressado.

Assim vai.

Quando o romance termina, a genitora tem a imagem arranhada. Parece que ela foi mal. Atrapalhou o amor.

E aí vem a raiva. O filho alcança status. Ela não tem coragem de se matar como ele.

Urge então destruí-lo.

Assim vai.

Agora o ponto aqui é que eu nunca soube o que pensavam da Gorda.

E digo uma coisa, não parecia feminista não.

Aí minha mãe pensa o seguinte: a importância. A importância da Gorda. Uma mulher de status tem que achar a mulher relevante na vida intelectual do marido. Se minha mãe diz a verdade, qual seja, a Gorda não me importava nada como parceira intelectual, isso é ruim para o prestígio dela (genitora). Mulher que é mulher tem que achar que todas tem papel intelectual na vida do marido. Se não, pega mal.

Resultado de ter vivido no crusp.

É assim que ela pensa. É um cálculo de prestígio o tempo todo. Minha mãe é recordista mundial de saber com que se casaram as mulheres famosas. Porque o prestígio feminino vem disso. A quem que ela aconselha? Essa é a pergunta.

A mulher do Picasso tem um prestígio danado. O Picasso a ouve!

Como sou diferente da minha mãe, não sei com quem Picasso se casou. Mas com certeza é o que ela pensa.

E aí ela entende a Gorda, ou pensa entender. Ser a minha consultora dá prestígio sim. Embora ela nunca tenha entendido minhas piadas, o Millôr Fernandes disse que tava engraçado. E aí, aconselhar autor de textos de calibre dá prestígio e portanto minha mãe pensa entender a Gorda.

Mas a coisa se complica. Parece que eu não ouço minha mãe. Inconscientemente ela sempre soube que a opinião dela era um zero à esquerda pra mim. Mas o Shirakawa disse que não. A conveniência aí fala mais alto que a lógica, ela acredita! Vai até o fim do mundo para provar que a opinião dela é relevante.

Temos então o negrinho do "Alienista". Ele diz que vem gente linchar, não acreditam, ele passa a torcer que venha mesmo.

A genitora é o mesmo. Me lincha para provar que a opinião da Gorda é relevante na minha vida.

Tanto não me importava o que a Gorda pensava que fui no bordel. A Gorda não estava na minha mente, por isso fui.

Mas aí vem a genitora: não entende nada a meu respeito, mas, e a vergonha disso? Inventa então que foi machismo.

Não era. Mas lembra do negrinho? Ela destrói o que for preciso para provar que tinha falado certo.

Eu pensava, e penso, muito menos na minha imagem do que essa gente pensa. Porque são habitantes da corte francesa. Não tem que ganhar dinheiro fica no medíocre jogo das imagens.

Ah, então, sendo você machista, a Gorda te trazia feminilidade na sua vida! ( teve esse tipo de merda?)

A Gorda e a genitora não conseguem aguentar que eu não as ouço!

Mas nunca soube nada da Gorda, e a outra procuro ignorar porque dissecar aquilo lá exala enxofre.

As duas são competição o tempo todo. E vão morrer tristes as duas.

Essa merda desde o começo é a competição. Mas fazer uma mulher competitiva admitir que compete é fogo!

A ausência de preocupação financeira foi fatal também. Era um conforto o dinheiro que meu pai ganhava! Dava para pensar em futilidades o dia inteiro!

Se dizia de esquerda. Mas, vem lá, Fernando, vamos aumentar a casa?

Mas por que?

Se fizermos isso essa vaca da vizinha vai ter inveja!

Assim vai.

Eu não penso que as mulheres de um modo geral tem que ser silenciadas. Mas no caso da genitora...

Mas bandido nunca faz um crime só. E aí dá para pegar.

O machismo do meu pai foi a invenção do século. Mas não estava sozinho. A clozapina foi a propaganda do século.

O castelo de cartas caiu.

E parte da queda é essa denúncia.

A genitora é só teatro. Não tem uma vez que seja sincera.

Como tantos já mortos diziam.

Mortos que ela teme por sinal. A mente vai assim. Num momento imensa audácia, despreza o sofrimento alheio, mas em outros a paranóia: e se essa gente que maltratei vem puxar meu pé?

A Gorda ainda acha que vou contratá-la. A genitora ainda acha que vou concordar com a teoria do machismo.

Pouca chance.


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