Pequeno ensaio sobre a fantasia
Algumas pessoas sonham apenas naqueles momentos antes de adormecer, outras sonham durante o dia bastante. Como pontuou TE Lawrence.
Eu acho a fantasia uma atividade humana fundamental, e muito esquecida.
A maior parte parece ser pura perda de tempo, mas eu creio que você pensar no sucesso de sua próxima publicação, na repercussão daquela entrevista, no primeiro lugar no concurso, naquela mulher, etc, tudo isso tem finalidade sim. Essas coisas são portais de nossa vida interior. Quem fantasia bastante é justamente a pessoa que vai um dia ver o deus interior.
E acho que até mais. Quem mergulha em si mesmo, também vai mergulhar no outro, e ter empatia.
Um maestro terminava seu programa dizendo :" Quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão". Verdade!
Como qualquer leitor meu já percebeu, minha mãe é uma pessoa estranha. Não há como dar um entendimento definitivo dela, mas uns palpites vão.
Minha mãe parece estéril. Parece que não pensa nada. Parece oca.
E acho que talvez por isso perca o mais bonito da vida. Deus, a amizade, a poesia nas coisas simples, etc.
Aquele portal aparentemente inútil, ela não atravessa e não chega em coisas bonitas.
Talvez as crianças sejam o melhor de nossas vidas. Mas ela parece não ter consciência de ter dado à luz.
Quando eu estava no terceiro ano primário tinha uma professora rígida. Com medo de represália resolvi segurar o intestino. Não consegui. Fiz na calça.
Era o momento do apoio. Que nunca veio. Porque ela não enxerga a beleza de ajudar o filho.
Isso deve ter sido ruim pra mim, não sei precisar o quanto, mas um pouco pelo menos.
Ela engana muita gente. Quando se fala de sociopatas, as pessoas imaginam alguém inteligente, com glamour, envolvendo, manipulando. Ela é um pouco diferente. Tem consciência de que é ruim de conversa e por isso faz outra tática. Se faz de boazinha, sensível. Vai enganando. Sobretudo, percebeu que quando se diz de esquerda pega bem.
Mas não se aventura por exemplo a contar uma piada. Nunca vi minha mãe contar uma piada ou cantar uma música. ( a tese desse artigo é que ambos aí estão associados à vida in terior)
Essa falta de empatia a leva a ser má. Especialmente quando a pessoa não tem chance de reação.
Minha mãe descobriu aí uma fonte de prazer. As pessoas percebem a frieza dela, ela fica com o prestígio danificado, e aí, vinga-se, observando o medo alheio.
Capaz que comigo já era assim naquela época descrita acima.
Como meu pai tinha dinheiro, teve gente que usou minha mãe para chegar lá. Percebeu a mente fraca , e manipulou. Me refiro ao sr Shirakawa, entre outros.
Para onde vai a mente da minha mãe? O que se passa nas ausências? Naqueles momentos que a gente precisa, e ela não está?
Pois é. Parece que não tem nada na mente dela. Estaria pensando no próprio prestígio? Em sexo? Em quem casou com quem?
Parece que não tem nada. Ela viaja para um lugar totalmente estéril. Não volta com inspiração nenhuma.
E aí não vê que empatia é uma boa coisa. A mente dela é incapaz de entrar em contato com a ideia de solidariedade.
Liberar o filho por que? Ela vê o momento. Está divertido, ela pode ameaçar chamar a polícia, a tv japonesa diz que tem espectadoras que admiram a coragem dela,e assim por diante, fazer o filho feliz por que?
Ela não vê sentido algum em que eu seja feliz.
Está em batalhas lá.
Como a empatia é o bem mais precioso que temos, ela leva contra ataques doídos.
Por isso que gosta tanto do Shirakawa. Ele lhe diz que ela é forte, estoica, igual ao filho. Ela fica contente, promete fazer qualquer coisa em retorno.
O quanto essa frieza me marcou? Pois é. Difícil saber. Como bem pontuou minha atriz favorita (N. Kinski) meu pai foi o único que tive, não tinha como saber que ele era esquisito.
Eu também não sabia. Mas sim, parte da minha insegurança veio talvez daí.
Porque ela some. Quando se precisa dela, ela não está.
Agora, é só distração?
Creio que não. A minha tese é que ela percebe o meu medo, e tem prazer com isso. Depois diz que esqueceu de me buscar na escola. Mas não esqueceu. Só quis me meter medo.
Minha mãe é estranha demais. Deveria ter algo colorido na alma, mas é em branco e preto!
Vive um dia depois do outro, não enxerga a vida como um todo, não vê Deus, não vê o sofrimento das pessoas próximas.
Acho que é porque não fantasia nada.