Poema de Fernando Pessoa sobre as estações do ano
Nas três primeiras estrofes ele repete o estoicismo. De maneira surpreendentemente similar até.
As estações do ano são o destino, a vontade do cosmos, e se a aceitamos estamos agindo de acordo com a natureza e portanto estamos bem.
No terceiro parágrafo ele muda a imagem e o inverno torna-se metáfora dos sentimentos dele. E aí, de novo, aceitar o nosso inverno sem reclamar é a marca do estoicismo.
No quarto parágrafo ele fala no entanto que compreender demais é um erro, que a inteligência é apenas uma parte de nossa compreensão do cosmos, provavelmente ele se refere à nossa intuição como complementar. E parece, posso estar errado, que o uso excessivo de nosso intelecto estragaria a poesia.
Aí já não são palavras estoicas. Os estoicos tinham intuição como qualquer um, mas não creio que dissessem haver um excesso investigativo que nos privaria de sentir algo.
Para os estoicos, nosso intelecto era um aliado para nos prover sensações agradáveis. Estudar as estações do ano iria nos ajudar a ter delas todo o benefício possível.
Por exemplo, não acho o frio ruim, porque a temperatura do ar não me bloqueia o bem pensar, e a partir daí quando faz frio estou aberto para apreciar sem medo.
Agora, o que pensa o autor desse artigo?
Bom, primeiro aceitar as estações do ano e do nosso ser, sim. Mas de vez em quando vale dar uma folga, e desejar alguma coisa. Um dia mais ensolarado, ou mais fresco, faz parte também. É exagero de fatalismo não nos dar nunca nenhum luxo. É da natureza humana ter luxos ocasionais. Então, às vezes, modificamos as coisas para nos prover um dia agradável, em vez de só aceitar o que vem. Eu paro minhas atividades para assistir futebol. Deveria só aceitar e fazer sempre as ações mais adequadas à minha sobrevivência. Mas não é assim. A total perda de tempo de uma atividade que não me trará nem dinheiro nem crescimento espiritual faz parte das minhas decisões. Um chocolate após as refeições que não me aprimora o intelecto ou a saúde e ainda custa dinheiro também faz parte.
Bom, talvez de forma simples, às vezes convém descansar.
Quanto ao final, depende um pouco. À priori diria que o intelecto não vai nunca prejudicar. Mas os próprios estoicos diziam que Deus tem vontades incompreensíveis para o ser humano. Então entendo um pouco. Se a chuva está caindo e está agradável, ficar fazendo teorias que é porque o ar úmido entrando pelas narinas que está aumentando a dopamina no cérebro pode de fato nos privar do prazer de simplesmente ver a chuva.
Mas sim, o mundo é esse, não nos cabe lhe pedir que seja diferente, sabedoria de Fernando Pessoa, dos estoicos e dos alcoólicos anônimos.