Psicanálise: uma tarefa impossível
Atualizado: 4 de set. de 2020
A rigor, não se pode dizer “ você é machista”. Você foi machista, em dada circunstância com dada mulher. Em face de outra mulher você se torna compreensivo. Não se pode dizer “ você tentou o suicídio porque era um homossexual reprimido”. Reprimir sua homossexualidade foi um de seus sofrimentos.

Hoje ele parece o maior. Amanhã não mais.
Eu gosto do conjunto Beirut. Ah, vemos que você é sofisticado.
Sofisticado hoje, diante de você, amanhã no presídio ouvirei Roberto Carlos.
Vejo que você desejou a morte de seu pai. Sim. Mas hoje o amo.
Me fugiu à mente a palavra agnóstico para te descrever, e você teve prazer em me informar. Vejo aí um desejo de competição desnecessário.
Não foi. Eu só corrigi.
Você sonhou que voava porque queria uma nova vida, de liberdade. Sim, naquele momento. Depois de acordado percebi que minha vida atual é boa.
A personalidade humana é transitória. Por isso, uma pessoa inteligente fazendo psicanálise vai perceber que nunca se conclui algo substancial. Apenas a observação de momentos, e portanto nada sólido no qual se embasar para mudar sua vida.
Além disso, a vida é um sistema por demais aberto. Há quem diga que a posição dos astros nos influencia aqui.
O que acontece, é que uma pessoa inteligente vai mudar a descrição de seu passado a cada sessão.
O que se diz é que se alcança o inconsciente através de atos falhos e sonhos. Mas não há nada definitivo sendo alcançado. Apenas momentos. Esse o problema.
E não há porque se desprezar o racionalismo do paciente. Não é um estado de consciência inferior ao sonho.
A psicanálise pode ser uma diversão. Vamos ver aqui algo curioso que se passou com você. Mas nunca um processo sério. Porque não tem conclusões definitivas, não provê orientação alguma de como melhor agir no futuro.
A eficácia se deve a efeito placebo. A psicanálise é moda. Judaísmo é para pessoas sofisticadas.
Fazer parte do clube eleva a auto-estima.
Mas pode se tornar um crime. Caso o paciente seja inteligente.
Como eu fui.