Sadismo
Tempos atrás, quando era jovem, minha mãe foi numa piscina. Lá uma menina pronunciou meu nome. De imediato minha mãe teve vários sentimentos. A menina me amava e era sincera. Minha mãe sempre soube que era incapaz de amar, e ali viu que era inevitável eu preferir a menina.
Ela precisava agir. Impedir aquilo de alguma maneira.
Se lembrou do meu pai. Ela tinha visto uma aluna abraçá-lo. Ficou chocada, porque a aluna era mais sincera do que ela. Ela se viu ali perdida também. A aluna tinha mais a oferecer.
No desespero, ao chegar em casa pediu a separação. Deu certo. Meu pai não previra tamanha brutalidade, na cabeça dele tinha se casado com alguém que dialogaria.
Ele entrou em parafuso. Foi retirado da terra do amor para a terra dos mortos em segundos. Nunca mais meu pai se recuperaria.
Depois comigo o mesmo. Ela chegou em casa e contou. Pra me fazer ficar com vergonha. Foi o início do calvário.
O problema da minha mãe é mais para Karl Marx do que para Freud. Em certa medida é sociológico. Um problema sério na mente da minha mãe é que gente pobre na mente dela consegue ser mais brutal do que ela.
Coloquemos aqui que para pobres no Brasil ou no mundo, o que vale é o amor, não a rudeza. Ninguém quer rudeza.
Mas minha mãe não ama. Ela grita. Apenas. E aí se sente mal, porque como tudo em sua mente é competição, se alguém grita mais, todas as boias que a mantém flutuando se vão.
Ela recorre à brutalidade sempre. Porque acha que consegue mais.
Agora faz bobagem uma atrás da outra.
Me lembro do Salvador. Um negro artista. Também dez vezes mais sensível que minha mãe. Ela passava direto, sem cumprimentar.
Não, não era distração. Durante largo tempo na minha vida pensei que era distração. Mas não, era a causa secreta. Ela gosta de humilhar!
Pensar em fazer amizade nem de longe. Se meu pai tem poucos amigos, minha mãe acho que agora chegou a zero. Ninguém aguenta. Ela não sabe o que é a amizade. As pequenas coisas. O valor de um cachorro. Minha mãe nunca agradou um cachorro a vida inteira. Nunca cantou uma música a vida inteira. Não teve lágrimas em nenhum funeral.
Ela acha que é porque é estoica.
Talvez o momento em que ela é mais patética é quando quer se fazer de pobre. Ela acha que sabe o linguajar. Mas qualquer um percebe toda a falsidade, não precisa ter o talento do Salvador.
Na frutaria ela falou:"Ele tá estudando pra monge". Referindo-se a mim. O que passou na cabeça dela?
Primeiro pobre fala de forma correta. Ele está estudando porque quer seguir a carreira monástica.
Mas segundo, o mais peculiar. Não foi distração! Foi me fazer sentir vergonha. Ela sabe muito bem que carreira monástica é algo estranho. Queria me fazer passar vergonha. A causa secreta.
No shopping foi também qualquer coisa. A Mariana estava lá. Eu disse que queria ir embora. Por que ela não foi? Distração? Jamais! Não foi porque percebeu tudo, viu a chance de me por ansioso e não perdeu.
É trágico. Ela vai morrer sozinha.
Meu pai era uma boa pessoa. Tímido, inseguro, mas nem tanto também. Sabia circular um pouco, tinha certa habilidade, me ensinou a não desprezar pobres, mas depois do choque que levou com minha mãe, ficou desnorteado.
Minha mãe percebeu. E deu o golpe final. Disse a ele que eu era viado.
Foi uma jogada de mestre. Meu pai passou a me tratar como um sendo uma extensão da minha mãe, alguém que jamais compreenderia o lado dele.
Mas a jogada não foi dela!
Foi do psicanalista.
Aí o capítulo mais interessante. Minha mãe disse ao meu pai que se quisesse manter o casamento tinha que pagar um psicanalista.
Ele não teve escolha. Esse profissional, pessoa de muita ética, passou a comer minha mãe. Note-se que ela não tem prazer no sexo, minha mãe é quase assexuada. Sem álcool fica impossível. Mas aí, o prazer era chegar em casa e deixar meu pai perceber que ela tinha dado. Ele pagava um cara para ele comer minha mãe. Isso foi a pá de cal. Meu pai entrou de fato em parafuso. E entendo que perdeu a esperança da minha amizade. Na mente dele eu era igual minha mãe.
Agora, foi o psicanalista! O cara disse pra minha mãe dizer isso para meu pai. Ele percebeu que podia ajudar minha mãe na humilhação do meu pai dizendo que ele era machista, e a consequência disso era o filho viado.
Minha não tem inteligência para esse raciocínio todo, mas apreciou demais o resultado.
Ver filho e pai sofrendo era um êxtase!
Até hoje é assim para ela.
A ideia de dizer que meu pai é machista foi o maior golpe da vida dela.
O psicanalista ensinou bem. Pode não ser verdade mas você dizendo isso vai causar tumulto! Vai por seu marido em dificuldade! Vai por esse merda do seu filho em dificuldade!
E vai essa acusação até hoje.
A Mariana pensa que eu a larguei porque sou machista. Não é fato. Eu tava cansado de brutalidade, não aguentava mais. Três tentativas de incesto, numa das quais ela chegou ao orgasmo esfregando a buceta na minha bunda, mais uma agressão violenta com o cinto, tudo absolutamente incompreensível, tinham de fato me arrasado. Fui rude, mas porque era tratado assim. Minha mãe jamais dialogou. Ela não sabe dialogar. Só grita. E aí, eu acabei dialogando pouco e arruinei meu amor, exatamente como sempre quis minha mãe.
A minha falta de diálogo é de origem materna.