Sadismo 2
Meu pai não é tão ruim socialmente. Eu queria que ele tivesse ido no Ferreira Neto, desenvolto, comentando sobre tudo. Ele ficou tímido. Mas me deu alguns exemplos bons aqui e ali.
Um dos maiores arrependimentos da minha vida foi não ter frequentado o clube de xadrez. Um bom lugar. De gente inteligente. Meu pai me levou lá. Dez vezes melhor ( e mais barato) que psicanálise.
Agora, minha mãe tinha a tese de ferrar minha vida com acusação de machismo. Não havia prova nenhuma disso, nada. Mas o psicanalista ensinou. Não precisa de prova nessa área. É tudo subjetivo, a gente entra de Freud, geralmente dá certo.
Minha mãe se fascinou pelo sr Shirakawa. Quando ele disse que no Japão achavam minha mãe resistente, ganhou tudo. O Shirakawa é psicopata igual minha mãe, mas é bem mais inteligente. Percebeu na hora como manipulá-la. Telefonou pra NHK e encomendou as entrevistas.
Esse foi um relacionamento peculiar. Minha mãe passou a fazer qualquer coisa pelo Shirakawa. No desespero, conseguiu que me fossem administradas drogas insuportáveis, no intuito de me fazer voltar a me consultar com ele.
O fato de eu estar sendo literalmente torturado pouco importava. Eu tinha que reconhecer que era machista, e isso justificava tudo. O Shirakawa saberia me guiar no caminho da feminilidade.
A coisa era grotesca.
Chegava a pontos surreais.
Eu contemplando o suicídio, e no quarto ao lado ela dormindo satisfeita, plena.
Teve sexo com o Shirakawa? Acho que sim, mas provavelmente nunca se vai saber.
Se eu tive traumas?
Muitos. Os mais antigos foram os escândalos da minha mãe. Ninguém que ouve minha mãe gritar escapa impune. Aquilo vai a alturas inimagináveis, a voz muda, parece outra pessoa, e o escândalo não acaba nunca.
Eu era uma criança nos primeiros escândalos, e sim me marcaram demais.
Minha mãe argumenta o tempo todo que meu trauma foi ver meu pai maltratá-la. Nunca vi isso. Mas sim, os gritos dela me marcaram.
Fui exposto muito cedo à brutalidade. Até mesmo às agressões físicas.
Quando fui tentar namorar a Mariana pode ser que tenham sido extravasados esses traumas. Ela viu uma brutalidade em mim. Não era muita, mas podia haver, pelo meu passado.
E talvez ela imaginasse uma atmosfera na minha casa favorável ao caso de amor. Mas nunca foi, minha mãe torcia contra.
Tinha me ensinado meu avô: não ganho na loteria porque sua vó torce contra.
Não sabia falar com a Mariana porque minha mãe torcia contra.
Eu sou inteligente. Minha mãe sabe. E por isso ela adora esse processo. Eu me esmero em raciocínios, muito além do que ela consegue ver, mas depois o plano não acaba, e ela goza de ver meu fracasso.É a vingança.
Nesse caso remonta à minha infância. Meu pai me entendia e ela não. Entender mais que minha mãe, qualquer um. Ainda mais com a perspicácia do meu pai. Ela carrega ódio disso.
"Seu pai inteligente, mas vou botar pra quebrar, vou gritar, socar, chamar de machista vou ferrar com vocês dois!".
Isso é minha mãe. Só tem vingança na cabeça.
Tanto que me sugeriu : volta para o Shirakawa e esfrega no nariz dele o teu sucesso.
Bom, a falta de perspicácia é grave também, não preciso comentar.
Minha mãe que me levou ao suicídio?
Em grande parte sim.
Ela foi a influência que inibiu meu diálogo com a gorda?
Em grande parte sim.
Como que não se percebeu essa coisa toda?
Não faço ideia. Mas creio que perceberam, só que o Shirakawa e a NHK deram um jeito. Meia dúzia de depoimentos falsos resolveram a questão. Quem sabe um japonês dizendo meu pai também foi machista, minha mãe também sofreu na mão dele.
Minha mãe sabe o que passei?
Ela sabe. Mas não liga. Minha mãe não sabe se por na posição dos outros. Daí o incesto, daí os gritos, daí tudo.
Viver sem compaixão dá nisso. E ela vai sofrer por causa disso.
Minha tia morou comigo.
Minha mãe não se abaixava para recolher o que estava no chão. Era tarefa da minha tia. Com o tempo, ela não aguentou. Reclamou com meu pai. Mas ele era chantageado pela minha mãe. Minha tia teve que ir embora de casa.
Minha mãe me disse que ela tinha ido embora por minha causa.
No hospital, meu pai morrendo, minha lhe dizia que iria embora, ele que chamasse a amante.
E ela me convenceu que meu pai era mau. Me convenceu que ele não merecia ajuda.
Sendo meu pai perspicaz, viu suas últimas esperanças em mim terminarem. Não sem razão né?
E a velha gozando com tudo isso.
Ela não consegue ver vida como um todo. Só vive um dia depois do outro. Por isso mente. A mentira tem resultado imediato, a verdade a longo prazo.
Não vale nada.
Não vai nunca assinar minha carta de alforria.
Só quer vencer.
Eu deixei pra trás a competição toda a partir da ajuda de um amigo. O Juhei. Ele me alertou para essa competitividade.
Agora, minha mãe já buzinava para a mãe dele que meu pai era machista, pode ter certeza.
Essa é outra característica da minha mãe: adora ferrar com a imagem do marido e do filho.
Uma vez meu professor de química disse à minha mãe que tinha uma filha lésbica. A resposta foi imediata: meu filho também é viado!
A maior razão pela qual me deram clozapina foi o fato dessa droga inibir o orgasmo e assim bagunçar minha vida sexual.
Mas uma vingança da minha mãe. Ela viu que eu tinha bastante prazer nessa área. Mas ela, lembre-se, só com álcool. Ficou com raiva. A clozapina veio para a vingança.
Ideia do psicanalista. Nesse caso não aquele, mas o Shirakawa.
A ideia de machismo é ridícula. Nunca houve. Meu pai é incapaz disso. Minha mãe já quis apanhar. Ela sabe que merece. Ele que não quis bater.
E eu nunca fui isso aí. Certo, fui um pouco rude com a Mariana. Pode ser. Mas faltou percepção dela. Eu não tinha charme mas tinha amor. E o vilão era minha mãe.