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Sobre a lógica

Sobre a lógica


Recentemente concluí o curso de estoicismo que tem por título “ School of essential studies”. Meu professor, o simpático Paul Lanagan,me perguntou se o curso tinha de alguma forma contribuído para minha pessoa. Respondi que a melhor contribuição tinha sido o exercício da lógica, pelo qual tomei maior gosto do que já tinha.

Mas aí alguém pergunta: do que você está falando?

Vou desencavar isso de mim mesmo, sem pesquisar.

Acredito que o que conhecemos por lógica não seja necessariamente o que rege o universo. Pode ser, como pode não ser. Meu raciocínio é o seguinte: a vida surgiu na Terra talvez de forma independente. Não sabemos se veio de outro lugar, ou se se originou aqui. Mesmo que tenha vindo de outro lugar, provavelmente veio em forma bem primitiva, e depois se desenvolveu aqui. Acredito que a lógica tenha origem em tempos remotos. Foi o que a vida na Terra construiu para interpretar o que percebia pelos sentidos. Ou seja, talvez não sirva para outros lugares.

A ideia de Zeus, do Logos, é um tanto otimista eu diria. Me parece não haver uma certeza de que o que a vida criou aqui vai servir para qualquer lugar. Na China a escola Neo- Confucionista achava também que a lógica humana era a mesma do universo.

Isso posto, vamos adiante.

Há uma crença de que a razão humana é superior à dos outros animais.

Creio que o homem pensa mais, faz mais associações entre impressões percebidas no passado e as percebidas agora. Que é o trabalho da lógica. Porém, a lógica em si, creio que todos tem. Pelo menos meu cachorro tem. Porque ele vê um caminhão, associa com um atropelamento que viu no passado, e conclui que deve evitar ficar na frente do caminhão. Me parece que o homem faz mais uso da lógica, mas não que tem uma lógica superior, a lógica é a mesma, para todos.

A questão porém vai mais longe. Existe um outro sistema desenvolvido pela vida para guiar suas ações. As emoções. Quando meu cachorro foge do caminhão, ele primeiro o percebe e faz os cálculos, mas aí algo diferente ocorre: ele sente medo.

E aí também alguns advogam uma superioridade humana. Por exemplo já vi uma pessoa indignada dizendo: onde está o Shakespeare dos Chimpanzés?

Acredito que no caso do pensar, seja defensável que o ser humano pense mais,mas quando se fala de emoções não se pode julgar. Não há como saber se outros animais se emocionam mais ou menos que nós.

A ideia de que só o ser humano produz arte pra mim é também discutível. Quando um chimpanzé dança na chuva, ou quando meu cachorro faz uma pose ao se deitar ao sol, por que não considerar isso arte? A sensibilidade pra mim está em toda parte. No grande sertão veredas os jagunços não aguentam ouvir os cavalos sofrendo durante o tiroteio.É óbvio que eles acham que os cavalos estão ali profundamente emocionados. Os relinchos deles nessa situação, não são uma obra prima?


O fato é que a vida, a partir de um certo ponto evolutivo, (não dá para saber como é para uma bactéria, ou se as plantas sentem algo) me parece ter criado dois sistemas interligados para tomar suas decisões. A lógica e as emoções.

Por que dois sistemas? Não sei. Dá para intuir que as emoções produzem decisões mais rápidas. Voltando ao exemplo do cachorro, até ele decidir correr pode perder tempo, quando vem o medo a reação é imediata.

E é na relação entre esses dois sistemas que reside grande parte do drama humano nesse planeta.

Os sistemas são interligados, o cachorro percebe o perigo racionalmente e depois sente o medo. Porém, creio que são excludentes. Ou seja, ou o cachorro calcula, ou ele se apavora. Acho que não ocorrem as duas coisas ao mesmo tempo.

A descoberta estoica é que se você der mais ênfase ao seu sistema lógico, o que pode ocorrer por força de vontade, suas emoções tendem a ser mais agradáveis.

Como fazer isso?

Bom, algumas coisas são observáveis. Como eu disse, se precisamos de uma resposta imediata o sentir vai bem, porque é mais rápido que o pensar. Mas se fazemos o inverso, se damos uma pausa, aí damos uma chance à lógica.

No meu curso de estoicismo li o pensador John Sellars. Numa passagem ele se refere à uma tempestade em alto mar, onde um estoico sentiu medo. Perguntado como ele, um estoico, poderia explicar ter sentido medo, a resposta foi que no momento da tempestade tinha de fato se amedrontado, mas depois, refletindo, recobrou a calma. Ou seja, a pausa propicia uma chance à lógica. Após a tempestade ele percebeu que nada de realmente mau estava acontecendo e portanto ele não tinha que se sentir mal ali.

Para escrever esse artigo fiz pausas. Mas diria que as emoções não estão aqui ausentes. Nem esse era o objetivo estoico. O objetivo é aumentar o uso da lógica, mas não fazer desaparecer as emoções. Ao fazer um exercício lógico escrevendo esse artigo, isso me propicia uma sensação de paz. Aí talvez o centro do estoicismo.

Vimos que emoções e raciocínios são excludentes.

Ao evitar certas emoções, os estoicos se tornavam mais lógicos.

Criei o exemplo do professor secundário. Ele dá notas boas e ruins. Os alunos com notas piores o consideram um pior professor do que os que tem notas boas. Não porque ele seja pior professor, mas porque eles querem que isso seja verdade. Aqui, a emoção de não gostar do professor move o julgamento.

Nossos desejos portanto nos bloqueiam a lógica.

E, interessante, quem é o homem feliz na visão de Buda? Aquele que não deseja. (ou pelo menos não deseja ardentemente)

É interessante ver que quando estamos dialogando com uma pessoa, muitas emoções afloram.

Está pessoa está na moda? Sua fala é politicamente correta? A voz é bonita? Esse penteado é gay? Essa pessoa é mais inteligente do que eu?

Chamo isso de emoções porque são sentimentos imediatos, não refletidos. Alguém poderia argumentar que foi feito um raciocínio para determinar se a pessoa está na moda ou não. Sim. Mas foi um raciocínio rápido, seguido de uma emoção inibidora da lógica.Assim como nos outros exemplos.

Esse texto que escrevo. Alguém lendo certamente vai dizer que não está na moda o estoicismo. Mas, para o estoico, é isso que importa? Não. O estoico é lógico e lendo meu texto só quer ver se faz sentido ou não. Ele inibe a pequena emoção criada da observação de que o texto não está na moda, e permite que a lógica faça seu trabalho.

Voltemos ao Buda. Ele queria que se desejasse pouco. Bom, uma pessoa cuja ambição é apenas deixar a lógica aflorar, na minha opinião deseja pouco. Não está perdida no meio da competição insana que é nossa sociedade. Assim desejando pouco, vem a consequência: a frustração é menor.

A lógica então influencia nossas emoções. Ocupando o lugar de desejos, ela nos propicia satisfação e paz.

É óbvio que existem outras maneiras de um ser humano se sentir em paz. Nenhum romântico vai gostar do meu texto. Porque advogam o caminho não só das emoções, mas das grandes emoções. Outros vão dizer que Deus lhes traz paz. E tudo isso é verdade! Não estou dizendo que não. Apenas que o caminho da lógica existe e traz paz. Muito talvez como queria a escola Nyaya na Índia.

Porém, explicar a vida talvez seja ir além do que a nossa capacidade de interpretar as observações seja capaz. A resposta emotiva, imediata, aqui talvez seja a melhor. Dá para ficar em paz. Não sempre, mas com frequência.

Amor Fati !






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