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Uma nova abordagem da esquizofrenia

Uma nova abordagem da esquizofrenia

É possível sair do corpo?

Muita gente reporta ter viajado fora de seu corpo. Se houve de fato isso, ou se é uma ilusão da química do cérebro não importa para esse artigo. Vou considerar, para efeito de argumentação, essas viagens reais, mas se o leitor discorda, verá, com um pouco de bom senso, que se ele considerar apenas um fenômeno interno da mente dá no mesmo.

Meu interesse pela filosofia é longo. Na leitura de Platão me deparei com o mundo das ideias. Do que se trata? Refere-se a um lugar do universo onde habitariam as definições de todas as coisas.

O que é uma definição? Para quem não conhece lógica, definição se refere ao que há de comum entre indivíduos. Por exemplo: na sua sala há uma cadeira. Em outros lugares há outras cadeiras. Cada cadeira é um individuo. Mas há algo de comum entre todas as cadeiras do mundo. Essa é a definição de cadeira. Também conhecida pelo sugestivo nome de universal. Corresponde mais ou menos ao que você vai achar no dicionário se procurar a palavra cadeira. A diferença é que o filósofo seria um pouco mais cuidadoso.

A definição é algo abstrato. Ou seja, não tem corpo. O leitor veja, cada cadeira individual tem um corpo. Mas a definição não tem corpo.

E aí chegamos à uma questão fundamental de toda a história humana. Uma coisa abstrata existe? Uma coisa abstrata está em contato com o mundo material?

Um químico diria que não. Não tem como uma coisa abstrata interagir com uma coisa corpórea. Como uma definição pode participar de uma reação química? Não tem como.

Mas por exemplo: Eu grito: A árvore vai cair! – e meu amigo foge. Houve aí uma interação material. A minha voz é o ar tremendo que chegou no ouvido do meu amigo, entrou em sua mente e lá dentro fez a reação material da mente comandar a ação de fuga do corpo.


Mas se eu disser o seguinte. Eu de fato produzi um som. Mas o som tinha um significado. Esse significado é abstrato, é a definição de uma árvore caindo. A definição interagiu com o mundo material, porque foi a definição que levou meu amigo a fugir.

Platão acreditava numa interação entre as ideias ( definições) e esse mundo.

Uma pessoa ama outra não apenas pela outra pessoa, mas também por causa da ideia de amor.

Essa é primeira ideia aqui.

Muita gente se surpreendeu quando eu consegui dar palestras.

Eu tinha um segredo. Consumia uma pequena dose de um alucinógeno antes da palestra( um alucinógeno legal no Brasil).

Minha ideia é que esse alucinógeno me punha em contato com uma abstração que intermediava meu contato com o público e isso me permitia falar com desinibição. Alguns atores dizem que não tem consciência da câmera. É semelhante ou igual ao que eu sentia. Essa abstração era o que eu sentia, não o público (ou a câmera).

Aí começo. Os estoicos diziam que não havia interação entre abstrações e mundo material. Era uma fantasia de Platão.

Mas eu acredito nisso.

Até hoje eu dependo disso. Se não tenho a sensação subjetiva de estar em contato com essa abstração, não consigo fazer nada, muito menos dar a palestra.

Essa abstração intermedia minha relação com o mundo.

É interessante que parando o consumo da clozapina, droga receitada pelos psiquiatras para pessoas com meu diagnóstico, não preciso mais do alucinógeno para viajar. Minha mente consegue sair do corpo e ter de novo esse intermediário salvador entre mim e o resto.

No meu caso, a clozapina também me impedia de ter orgasmo.

Eu especulo: não será que algumas pessoas experimentam sair do corpo durante o orgasmo? E essas pessoas então quando usam a clozapina já não tem orgasmo porque essa droga inibe a saída do corpo.

Pra mim, nessas viagens está a explicação da esquizofrenia.

A experiência decisiva que tive foi uma viagem fantástica. Primeiro cheguei nesse lugar que já conhecia. Era um vazio. Não havia nada lá. Escuro sem absolutamente nada. No entanto era algo, porque interagia comigo me dando intensa paz. O melhor lugar que já estive.

O segundo lugar foi o mundo das ideias. Me senti em contato com as definições. Não aprendi nenhuma definição nova, a não ser a do próprio lugar. Mas, embora eu percebesse que os raciocínios que eu fazia eu os faria em outras condições, nesse lugar eu pensava mais rápido. Era impossível que eu estivesse pensando tudo aquilo só por mim. Algo me inspirava.

E mais. Passei um tempão sem dormir. Meu corpo se cansava,mas a mente não. O que pensei foi que eu tinha a sensação de não estar dormindo, porque continuava ouvindo ao redor, mas minha mente descansava porque dormia fora do corpo, nesses lugares. Era a única explicação do meu fantástico estado de espírito depois de três, quatro noites sem dormir.

O fato mais interessante é o seguinte: eu não voltei direito desses lugares. A experiência ressoa em mim.

E aí pensei: será que não aconteceu o mesmo com meus colegas de esquizofrenia?

Na minha adolescência fui fascinado pelo livro “ Sete pilares da Sabedoria” do inglês T.E. Lawrence.

Outro dia tive uma ideia. Fui reler a parte mais terrível do livro, onde ele descreve a tortura que sofreu nas mãos do exército turco.

Qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma descrição que em certos pontos coincidia com a minha viagem.

Ele teve boas palavras. Disse que se tornou, após dez minutos, não mais um ator, mas um espectador. Era incerto o que se passava com seu corpo.

E o trecho mais fantástico: ele reporta ter sorrido para um soldado turco no meio de um êxtase sexual. Experiência que senti. Em certos momentos da viagem a sexualidade aflora fortíssima. Como disse acima, suspeito que para algumas pessoas o orgasmo seja uma viagem para fora do corpo.

Como explicar um êxtase sexual de uma pessoa sob uma dor física insuportável?

Pra mim, ele estava fora do corpo.

No final da descrição, ele diz que a dor física o tinha drogado. Uma explicação surpreendentemente boa.

E ele nunca voltou direito. A inteligência ficou fantástica, quem ler o livro vai ver raciocínios que são difíceis de explicar, descrições introspectivas de um nível raro. Uma memória que parece vívida de inúmeros personagens. Veja-se que interessante, usuários de psicodélicos reportam uma reativação da memória também.

Mas seu destino foi triste. De volta à Inglaterra após a guerra, caminhava perdido, isolado pelas ruas de Londres. Nunca conseguiu uma convivência pacífica com sua fama.

Minha teoria sobre a esquizofrenia é essa. Essa gente fez viagens. E não voltou. Nem perceberam que viajaram. Nem perceberam que não voltaram.

Os psicotrópicos são drogas que inibem viagens. Daí o meu imenso desconforto com a clozapina.

Mas daí talvez a origem de um melhor comportamento com essas drogas. Elas estariam inibindo os famosos “flash backs”.

Flash Backs são momentos em que a pessoa retorna a esses lugares sem o uso de drogas ou o que lhes tenha feito chegar lá.

E aí também a explicação dos psicotrópicos estarem, como todos os usuários sabem, longe, muito longe de resolver seus problemas.

O que queremos não é que nos inibam as viagens. O que queremos é viajar bem, ter o prazer intenso de um intermediário que nos defenda do mundo, mas, talvez sobretudo, queremos palavras que nos possam por em contato com gente que não viajou.

Há um documentário americano fantástico que tem por título “ soldados escondidos”.

São veteranos do Vietnã que não conseguiram se reajustar e resolveram viver isolados na montanha.

Dá a impressão de que também viajaram com o stress da guerra. E não tem como explicar a viagem que fizeram, não dá mais para interagir. Mas interagem uns com os outros. Porque estiveram no mesmo lugar. Não o Vietnã, me refiro ao lugar onde suas mentes viajaram.

Alguns gostam de maconha. Não seria a maconha um facilitador entre eles e algo parecido com o que eu tinha, algo que me intermediava com o mundo?

A psicanálise e muitas das ideias modernas de psicologia se mostram inúteis nesses pacientes.

Porque há um erro básico. Essa gente acha que uma pessoa é feliz na medida em que seus relacionamentos sejam felizes. Não é assim. Quem viaja é feliz na medida em que viaja bem, na medida em que tem um intermediário lhes defendendo.

Intermediário é uma palavra que está perturbando o leitor. Jesus é o mais famoso intermediário. Agora está claro.

A solução da esquizofrenia é muito mais religiosa do que psicanalítica. Não é o relacionamento humano que importa, mas o divino.

O que é Deus?

É o mais famoso e melhor dos lugares que se pode visitar.

Deus varia. Ele tem vários graus de humanidade.

Pode ser literalmente um homem barbado acima nos contemplando. Pode ser menos humano, algo nos contemplando sem forma humana mas desejando que todos nos amemos (amor é uma emoção humana). Pode ser o Deus de muitos estoicos : algo simplesmente racional, que organiza o universo de forma lógica, acessível em grande parte ao ser humano. Ou pode ser o Deus que contemplei e que me salva. Algo totalmente abstrato. Aquele lugar vazio que descrevi, onde já não há nenhuma característica humana.

Deus é a melhor salvação dessas pessoas.

O que elas mais anseiam, sendo pessoas sensíveis, capazes de empreender essas viagens, é esquecer a competição desse mundo. Tendo ou não consciência, eles não querem participar desse que é o pior aspecto humano.

Tendo o intermediário, já não lhes atinge isso.

Muitas vezes eu usei o alucinógeno antes de dirigir grupos de ajuda mútua. Meu mandamento número um era evitar competições. Os grupos foram um sucesso.

O triste é que o consumo de psicotrópicos, ao inibir as viagens, inibe também a habilidade de fugir da competição, e mergulha essas pessoas num sofrimento infinito. Tanto que muitos acabam por suicidar-se.

Tudo que vi de psicologia estava errado. Porque sempre girava em torno da ideia de que se é feliz tendo relacionamentos felizes. Não é. É tendo Deus. Um bom relacionamento com Deus, não com esse mundo.

Deus é a melhor viagem. A mais fácil de explicar. Muita gente viaja assim.

A questão creio que é só achar qual Deus é mais agradável. Desde o mais humano até o mais abstrato.

Suspende-se os psicotrópicos. Passa-se a viver uma vida não mundana. A felicidade tem grande chance de vir.

A partir de Deus, pode-se ajudar o próximo. Uma vez que você tem um intermediário, você está forte, e finalmente disponível. Quando se ajuda uma pessoa de forma desinteressada, não pensando no retorno, não fazendo isso porque a pessoa é interessante e vai te convidar para ver um filme da hora, mas porque você quer simplesmente ajudar, esse é o ponto alto da vida.

A psicanálise tem pouco tempo de vida, nenhuma prova científica, apenas um efeito que pode ser puro placebo, de que seus praticantes se julgam com frequência pessoas interessantes.

Deus tem cem mil anos nas culturas humanas.

A ideia dessas viagens também tem essa idade.

Não há comparação.





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